05 junho 2008

Povo Kapinawá

1. Ocupação territorial; Descrição das aldeias; Localização; Situação jurídica.

Os Kapinawá são descendentes dos índios que habitavam a aldeia do Macaco onde, durante o século XVIII, situava-se a antiga missão dos macacos no município de Buíque, interior de Pernambuco. Segundo informações de Pereira da Costa, tal missão, em 1710, era constituída de índios tapuios chamados de Paraquiós ou Paratiós, na paróquia de Ararobá.

Uma Carta Imperial de 1874, da qual só se conhece uma cópia datilografada, doava essas terras aos descendentes do povoamento dos “macacos”. Ainda neste documento, encontrava-se descritos os limites do território então doado, ainda que com certa imprecisão (SAMPAIO, 1995). A partir de tal cópia, foi demarcada em 1997 uma área de 12.403,09 Ha. de extensão como sendo Território Indígena pertencente aos Kapinawá. Segundo a Funai, a população indígena desta região é superior a 2.100 índios, distribuída em dez aldeias, sendo elas: Julião; Palmeira; Mina Grande; Macacos; Ponta da Várzea; Malhador; Massaranduba; Baixa da Palmeira; Pedra Furada; e Santa Rosa. Essas aldeias estão dispostas em forma circular, formando um pátio central.
Os atuais limites do território Kapinawá encontram-se fixados, levando-se em consideração as delimitações então estabelecidas pela Carta Imperial de 1874. Assim, a área da reserva indígena Kapinawá limita-se ao sul, com o Riacho dos Macacos; a oeste, a reserva faz fronteira com o município de Ibimirim e, parcialmente, o de Quiriri d'Alho. Ao norte, a área limita-se com a Serra do Pinga e a leste com os riachos do Coqueiro e Catimbau.





Fonte: www.ufpe.br/nepe


Situação territorial do povo Kapinawá (Processo Demarcatório)


Povo Indígena Kapinawá


Terra Indígena Kapinawá


Localização (município) Buíque, Tupanatinga e Ibimirim


Situação Fundiária Homologada/Dec. de 11.12.98


Extensão (Ha.) 12.403,09


Quadro resumo da Situação Jurídica das Terras Indígenas em Pernambuco


(etapas do processo demarcatório Kapinawá)


Povo Indígena Kapinawá


Terra Indígena Kapinawá


Identificação 1978


Declaração 1996


Demarcação 1997


Homologação 1998


Registro 2001



Recentemente, os índios Kapinawá vêm reivindicando um novo estudo de suas terras, com o objetivo de que sejam contempladas áreas consideradas imprescindíveis para eles. Tais localidades abrigam sítios arqueológicos que os Kapinawá consideram como pertencentes aos seus antepassados.


Existe também um considerável número de famílias indígenas fora do perímetro homologado em 1998. O maior contingente dessas famílias está inserido, segundo os próprios índios, na área do Parque Nacional do Catimbau, contígua a TI Kapinawá. Relatórios produzidos por técnicos da FUNAI, no ano de 2002, informavam a existência de 147 famílias Kapinawá “desaldeadas”, sendo que 45 encontravam-se no perímetro proposto para o Parque Nacional do Catimbau.



2. Organização Social; Instituições; Modelos de Organização (associações).

Os índios Kapinawá constituem-se mais um exemplo de emergência étnica ou etnogênese dos povos indígenas do Nordeste brasileiro. Esse processo, pelo qual passaram os Kapinawá, exige do povo indígena emergente uma reorganização social para a criação de uma nova unidade sociocultural e a reelaboração da cultura em um diálogo constante como o passado.


A formação do grupo étnico Kapinawá foi política, estrategicamente produzida com fins utilitários dentro de um quadro político preciso, cujos parâmetros estão dados pelo Estado-Nação (ALBUQUERQUE, 2005).


Duas figuras foram bastante importantes nesse processo de etnogênese Kapinawá e de organização inicial. O primeiro personagem foi José Antônio dos Santos, o Zé Índio, de origem Xucuru. E o segundo foi Pedro Manuel, o Doca, de origem Kambiwá, que desde os anos 30 era um dos líderes do movimento Kambiwá.


Doca e Zé índio foram os principais protagonistas envolvidos na luta dos Kapinawá pelo reconhecimento étnico, e já haviam reunido inúmeras informações sobre a história dos grupos indígenas que ali habitaram (ALBUQUERQUE, 2005). Eles buscaram organizar uma defesa militar, judicial e espiritual da Mina Grande para resistir às pressões enfrentadas na luta pela terra (SAMPAIO, 1995).


Além das instituições comuns dos povos indígenas do Brasil, tais como: pajé e cacique, os Kapinawá contam uma organização social em torno de associações e conselhos, sendo eles: (1) Associação Indígena dos Kapinawá da Aldeia Julião; (2) Associação Comunitária dos Índios Kapinawá; (3) Conselho Comunitário dos Índios Kapinawá; (4) Clube das Mães Kapinawá; (5) Conselho de Educação Kapinawá.



3. Festas; Rituais; Mitologias; Calendário religioso; Histórias.

Os Kapinawá, assim como outros povos indígenas do Brasil, realizam o Toré como ritual para invocar os “encantados” (índios mortos), porque segundo a crença desse povo os antepassados deles não morreram, mas “encantaram” e hoje estão presentes entre eles, podendo inclusive ajudá-los sempre que for necessário.


Além do Toré, os Kapinawá praticam o Samba de Coco, que segundo eles fazem parte da Cultura popular dos “caboclos” que habitam aquela região. Antigamente o Samba de Coco era praticado pelos Kapinawá para “pisar” o chão de uma casa nova, visto que as casas desse povo eram feitas de barro e palha tendo o chão de barro.


Ao necessitarem de se fazer reconhecer como verdadeiros índios, os Kapinawá fizeram do seu Toré o sincretismo dos lugares da música, a partir de um encontro de três universos musicais: a música religiosa do camponês nordestino; a música de brincadeira; e por fim o Toré. Esse Toré enquanto apresentação política e religiosa ganha a experiência performativa e musical da brincadeira profana do Samba de Coco, e por tabela, o Samba de Coco entra na Igreja à medida que também o Toré é praticado em simbiose saudável às prática religiosas cristãs (ALBUQUERQUE, 2005).


Essa nova experiência cultural coletiva adotada pelos Kapinawá, o ToréCoco, passa a constituir um novo espaço criado para a atualização da “tradição”, respondendo às novas experiências políticas, culturais, religiosas, artísticas e principalmente musicais.


No caso Kapinawá, o Toré, no qual a jurema como enteógeno tem participação inferior à da jurema como símbolo e semântica na produção lírica dos toantes e sambas de coco, tornou-se a “brincadeira” oficial dessa etnia.



4. Saúde; Educação; Escolas; Escolarização; Serviços oferecidos pelos municípios.

Os Kapinawá, assim como os povos indígenas do Brasil, são beneficiários de uma rede de serviços públicos oferecido pelo Estado.


A saúde é garantida pela Fundação Nacional de Saúde, FUNASA, que possui uma política de atendimento específica para os povos indígenas. A educação é assegurada pelo Governo do Estado de Pernambuco. E a assistência social é realizada por diversos órgãos dos Governos Federal, Estadual e Municipal.


Os índios Kapinawá perceberam a necessidade de melhorar a educação e a formação de seus jovens e crianças. No início da estruturação da educação indígena entre os Kapinawá, enfrentou-se dificuldades por ter um número de professores muito reduzido. Isso mudou com a contratação, pelo Governo do Estado de Pernambuco, de novos professores ampliando assim o corpo docente da região. Hoje, as escolas indígenas Kapinawá contam com aproximadamente 50 professores, todos de origem indígena.


A necessidade de construir um “modelo próprio” de educação, dentro de uma perspectiva da auto-organização dos índios para garantir a educação indígena do seu povo, passou-se um processo de lutas e conquistas para a efetivação do direito a educação.


Tendo como principal entidade, nessa luta, os Kapinawá ajudaram a construir e contaram com o apoio da Comissão dos Professores Indígenas de Pernambuco – COPIPE, composta por três membros de cada povo, sendo dois professores e uma liderança. Em 2000, os índios Kapinawá, juntamente com outros povos indígenas de Pernambuco conseguiram, através da COPIPE, a “estadualização” da educação indígena no estado. E em 2002, conseguiram que a gerência dessa educação fosse feita pelas aldeias.


As escolas Kapinawá são localizadas nas aldeias desse povo, somando um total de 7 escolas e 18 anexos. Outra importante entidade relacionada com a educação Kapinawá é o Conselho de Educação Kapinawá – CEIK.


Também houve uma luta pela constituição de uma educação Kapinawá, que enfatizasse os elementos e acontecimentos da própria história indígena Kapinawá. Anteriormente, a educação desenvolvida nas escolas responsáveis pela educação dos indígenas era imposta pelos órgãos públicos municipais, sem que houvesse um diálogo e um entendimento com esse povo sobre a sua própria educação.


O processo educativo Kapinawá busca educar os índios dessa etnia levando ao conhecimento de suas instituições, cacique e pajé, e o que elas representam para a organização desse povo. Através da utilização de rituais e técnicas agrícolas, próprias desse povo, os Kapinawá construíram uma eficaz ferramenta pedagógica.


Ao se utilizarem do Toré, do conhecimento sobre a mata, as plantas, a natureza e do trabalho com a terra, os Kapinawá construíram um modelo de educação popular indígena baseada no que podemos chamar de “ciência de índio”.


A educação indígena Kapinawá também se diferencia da educação “formal” porque enquanto na útima a uma diferença cultural percebida na distancia existente de onde se vive (comunidade) e onde se estuda (escola). A educação desenvolvida na aldeia consegue unir esses dois espaços, pois nesse caso a educação e a aldeia se encontram dentro de um mesmo universo.



5. Interação com os municípios; Políticas Públicas; Vida política e Câmara Municipal.



6. Fontes bibliográficas; Documentos; Iconografia.

ALBUQUERQUE, Marcos A. dos Santos. O ToréCoco: o forgar lúdico dos índios kapinawá da Mina Grande-PE. In: GRÜNEWALD, R. de Azeredo (Org.). Toré: regime encantado do índio do Nordeste. Recife: Fundaj – Editora Massangana, 2005.


CARVALHO, Maria R. G. de. Parecer sobre a identidade étnica Kapinawá.Salvador, ms. 1982.


COSTA, F. A. Pereira da. Anais Pernambucanos. Recife: Arquivo Público. 1951 – 1966. 10v.


LEVAY, Marcos. Relatório referente atritos envolvendo componentes da tribo Kapinawá e civilizados, resultando na morte de 02 pessoas e ferimentos em 01 menor. Recife: Funai, ms. 1982.


MOTTA, D. C. G. da & MELLO, L. H. S. da. Síntese das conclusões e sugestões sobre o Grupo Kapinawá. Brasília: Funai, ms. 1982.


PEREIRA, Edmundo. Benditos, Toantes e Sambas de Coco: notas para uma antropologia da música entre os Kapinawá de Mina Grande. In: GRÜNEWALD, R. de Azeredo (Org.). Toré: regime encantado do índio do Nordeste. Recife: Fundaj – Editora Massangana, 2005.


PIERSON, Dolores C. Relatório: identificação étnica do grupo Kapinawá. Brasília: Funai, ms. 1981.


SAMPAIO, José A. L. De caboclo a índio: etnicidade e organização social e política entre povos indígenas contemporâneos no Nordeste do Brasil, o caso Kapinawá. Projeto de dissertação de mestrado apresentado à Unicamp, ms. 1986.


_________. Kapinawá: o povo que venceu os grileiros. Boletim da ANAÍ/BA 11, jul/dez. 1993.


_________. Notas sobre a formação histórica, etnicidade e constituição territorial do povo Kapinawá. In: REIS, E.; ALMEIDA, M. H. T. de; FRY, P. (Orgs). Pluralismo, Espaço Social e Pesquisa. São Paulo: ANPOCS/HUCITEC, 1995.